17 de fev. de 2009

Corro demais

E mesmo quando eu fecho os olhos, você aparece pra mim.

Caminho descalça. Na chuva de fevereiro, enquanto todos estão contentes entoando cantigas e marchinhas , eu ando só. E sigo só porque é o que me convém. Meus passos, antes tão certos, tornaram-se vacilantes. Caminho como quem anda sobre nuvens, sem saber se existe realmente chão sob meus pés. Sem saber se existe alguma coisa realmente. sem saber se existe gente no mundo.

Segredos mudos me acompanham. Fantasmas em pânico. Flores mortas colorem o asfalto como confetes jogados a esmo por uma criança perdida em sua alegria. Nunca brinquei com confetes. Por evitar espelhos, não tenho ninguém para contar meus segredos, para contar uma historia banal. E ainda me dizem que eu falo demais.

Falo demais. Bebo demais. Fumo demais. E corro demais.

Entro no meu carro e corro, corro demais pra tentar te ver.

Mas eu não tenho carro.

E continuo correndo pra te ver.

Tento encontrar o teu olhar. Aquele olhar duro, severo, que se abre em sorriso ao me ver usando cinta-liga. Aquele olhar que me usa e consome, que me despe, possui, ama e mata. Aquele olhar que acompanha o sangue que corre pela minha pele e ensopa o chão num rio pegajoso. Aquele olhar que me acompanha pelo salão enquanto o seu dono parte, vai embora novamente.

E mesmo que você, o fiel dono do olhar, queira parar de me olhar eu sei que não consegue. É impossível porque eu sei o que te faz sair da linha, sei o que te faz perder o foco e só pensar no prazer. E eu sei que eu não sei parar de te olhar.

Não sei desviar meus olhos dos seus. Não quero desviar. Porque pelos gloriosos segundos em que consigo manter um contato visual contigo eu morreria. Porque quando você me olha eu sinto, eu vejo, eu sei. Sinto que você me quer. Vejo seus olhos brilharem de emoção. E sei que você me ama.

E é por isso que eu não posso deixar de te olhar; porque quando eu o fizer não haverá mais sentido correr, não haverá mais sentido sentir, saber ou ver. A única coisa que fará sentido será deixar de respirar e finalizar assim essa espera por efêmeros segundos que nunca virão e pelos quais valeria a pena viver.

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